III Encontros Arcanos

Este ano o evento acontecerá em Campinas/SP, no período de 25 a 28 de Julho de 2016, através de uma parceria entre os grupos de pesquisa ÍMAN e PINDORAMA. Para esta terceira edição, que utiliza as cartas da Sacerdotiza e da Imperatriz como imagens referenciais, foi elaborado o tema Desvelamentos da deusa: Anima, Rebelião e Resistência, através do qual pretende-se abrir discussões sobre todo o campo dos símbolos, mitos e arquétipos do feminino nas art
es e nas fronteiras da cena

A PapisaA Imperatriz

 

3a Edição: o trabalho com as lâminas II e III, A SACERDOTISA E A IMPERATRIZ

Desvelamentos da deusa: Anima, Rebelião e Resistência

A carta da Sacerdotisa (algumas vezes chamadas de Papisa) é a carta número dois e apresenta a primeira imagem da anima, ou do feminino. Ela veste trajes cerimoniais e traz no colo um livro aberto. Seu olhar dirige-se para a carta anterior, para o Mago. Com ela, os truques do Mago se metamorfoseiam em um conhecimento. Simboliza a sabedoria – uma sabedoria ancestral – a intuição, e, como mulher, também a mãe e os frutos.

A carta da Imperatriz é o terceiro Arcano Maior do Tarô. Estampa uma mulher mais jovem que a Sacerdotisa, com traços de sedução e beleza. Traz nas mãos um cetro de poder e um escudo de proteção. Em alguns baralhos, aparece grávida, indicando um processo em curso. Seu olhar é para a carta seguinte, para o porvir. Se a sacerdotisa instaura a voz da alma, a Imperatriz instaura a voz do corpo.

Juntas, as duas cartas dinamizam o princípio feminino, evocam a Grande Mãe em múltiplas dimensões, integram a dimensão psíquica e somática.Logo3Arcanos-x

Diferentemente dos encontros anteriores, que se referenciaram em uma única carta, nessa terceira edição, interessa-nos a sinergia e a dinamicidade entre duas cartas. Serão abordados os trânsitos, colaborações e confrontos entre saberes tradicionais e a criação do novo. Sendo a anima um arquétipo fundamental da criação, processos criativos serão analisados do ponto de vista das dinâmicas da psique. Os aspectos formais e materiais da cena – ou da arte, numa forma mais ampla – serão explorados enquanto estratégias de sedução e beleza enquanto ética. Questões trazidas pelas epistemologias feministas serão abordadas enquanto importantes contribuições para as investigações das Artes Cênicas.

Enquanto linha que atravessa os Encontros Arcanos, pretende-se evidenciar a polivalência da imaginação e suas valorações simbólicas, ajudando a expandir os horizontes de pesquisa, para além das fronteiras clássicas que separariam os estudos cênicos, antropológicos, filosóficos, psicológicos e religiosos, colaborando para perspectivas pós-disciplinares.

A proposta do Arquétipo como guia ou Por que Arcanos?

O termo Arcano, de origem latina, refere-se ao que é profundamente secreto, enigmático, o que não se pode revelar. Na Alquimia, o arcano é uma operação misteriosa acessível somente aos seguidores desta prática esotérica, mas que refere-se a uma profunda transformação. O termo Arcano refere-se também a cada uma das cartas do Tarô, cuja origem data do século XIV, sendo o Tarô de Marseille um dos mais conhecidos. É composto por 78 cartas, divididas entre Arcanos Maiores (intitulados e nomeados), Arcanos Menores e as figuras, divididas em quatro naipe (números de Ás a dez, Rei, Rainha, Cavaleiro e Valete). As figuras podem ser entendidas como uma transição entre a abstração dos números e a complexidade dos Arcanos Maiores. Os Arcanos Menores deram origem ao baralho comum e sua divisão nos quatro naipes corresponde à divisão dos quatro elementos fundamentais da natureza (ouro-terra, espadas-ar, copas-água, fogo-paus). Também associam-se aos quatro elementos as figuras: Rei-Fogo, Dama-Água, Cavaleiro-Ar, Valete-Terra, permitindo inúmeras combinações.

Os Arcanos Menores podem ser considerados como energias arquetípicas funcionais, ativadas no correr do cotidiano, sintetizada na energia dos números e figuras. Já os quatro elementos são matriciais na relação soma-psique, desde Hipócrates ou Aristóteles, passando por Paracelso até Jung, e as quatro funções da psique (intuição-fogo, sentimento-água, sensação-terra, pensamento-ar), ou Bachelard e sua poética dos elementos. Já os os Arcanos Maiores trazem um conteúdo arquetípico mais complexo e definido, possuem um caráter e uma dramaturgia.

O Tarô, como bem colocado pelo dramaturgo e diretor Alexander Jodorowsky, forma um sistema de pensamento e de conhecimento singular, com uma rica e complexa lógica própria. Sendo um conjunto de Cartas e não um livro com páginas numeradas, ele se abre ao acaso e ao presente. Sendo um uma construção anônima, sem um autor que “assine” a obra, tem o valor de uma construção coletiva. Há ainda a questão da complexa hermenêutica que inclui símbolos e signos das três grandes religiões monoteístas, o Judaísmo (signos da Cabalah), o Cristianismo (iconografia) e o Islamismo (numerologia). Tudo isso torna o Tarô em sedutor desafio e, no campo das artes da cena, uma dramaturgia viva, com personagens vitais e narrativas sempre atuais, pois a cada jogada, uma história nova se configura.

Os Arcanos Maiores do Tarô são, portanto, a estrutura sobre a qual se apoia a perspectiva arquetípica, abrindo um campo vasto, denso e inquietante para investigações e práticas criativas em Artes da Cena. Por fim, é importante mencionar que tal perspectiva evidencia a polivalência da imaginação e suas valorações simbólicas, ajudando a expandir os horizontes de pesquisa, para além das fronteiras clássicas que separariam os estudos cênicos, antropológicos, filosóficos, psicológicos e religiosos, colaborando para perspectivas pós-disciplinares.

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